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Óscar Washington Tabárez, o professor do futebol

7 minutos
Você sabia que existe um professor que atualmente comanda uma das seleções no top 10 da FIFA? Convidamos você a descobrir tudo sobre a vida e o modo de pensar de Óscar W. Tabárez.
Óscar Washington Tabárez, o professor do futebol
Última atualização: 06 março, 2020

Falar de Óscar Washington Tabárez é falar de recordes, valores, humildade e de uma figura que representa o que um país inteiro sente pelo futebol e pela vida em geral. O Maestro, assim apelidado pelo seu passado como professor, é um ex-jogador de futebol e o atual treinador da seleção uruguaia de futebol.

Ele nasceu em Montevidéu, capital do Uruguai, em 3 de março de 1947, no bairro de Brazo Oriental. Desde a infância ele esteve ligado ao futebol através das brincadeiras de rua.

Atualmente, ele é o treinador que está há mais tempo treinando uma seleção nacional (15 anos) e com mais Copas do Mundo como treinador (4). Mas todos esses números são pequenos diante da sua influência na sociedade.

Os primórdios do Maestro Óscar Washington Tabárez

No início, Tabárez seguiu o caminho comum das crianças uruguaias da sua época: o futebol e a escola. Ele estreou como jogador de futebol em 1967 no clube Sud América.

Uma conquista que, conforme ele mesmo explica, ele conseguiu não por ser habilidoso, mas sim pela sua capacidade de não desistir. Ao longo de toda sua carreira, ele jogou em um total de cinco clubes uruguaios e no mexicano Puebla.

Um inconformista

A fome de superação afetou Tabárez. Depois de terminar o ensino médio, ele continuou apostando no conhecimento e se matriculou no curso de Direito. Porém, essa não era a sua praia e ele optou por abandoná-la, mas não sem antes continuar tentando, dessa vez com a carreira que marcaria a sua vida: o magistério.

A pouca receita econômica que o futebol lhe proporcionava para sustentar a sua família, que ele formou desde muito jovem, o levou a concluir o curso e se dedicar ao ensino. Então, ele passou a trabalhar como professor e jogador de futebol ao mesmo tempo, morando e ensinando em bairros carentes do oeste da capital. 

«O sucesso não é feito só de resultados, mas sim das dificuldades enfrentadas para obtê-los, do espírito de se propor desafios e também da coragem para superá-los»

-Óscar W. Tabárez –

Seu começo como treinador

Como não poderia deixar de ser, o Maestro começou a sua carreira de treinador por baixo. Em 1980, ele teve a sua primeira experiência na divisão juvenil de um clube modesto chamado Bella Vista.

Então, em 1983, ele passou a comandar o time no qual passaria a maior parte de seus anos como treinador, a seleção nacional, mas, nesse caso, a categoria sub-20.

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Imagem: Ovación Digital de Uruguay.

Um começo vertiginoso

Ele estreou treinando uma equipe adulta em 1984, o Danubio Fútbol Club de Montevidéu. Rapidamente, a sua maneira de trabalhar o levou para clubes maiores. Com a sua humildade característica, ele teve a iniciativa de levar os seus projetos e visão de trabalho às pessoas certas.

As oportunidades não demoraram a chegar e, em 1987, apenas 7 anos depois de começar, ele conquistou o maior título continental com o clube Peñarol, a Copa Libertadores da América. A partir daí, a sua carreira internacional não parou de crescer e ele continuou a sua carreira nesses clubes:

  • 1988: Deportivo Cali, da Colômbia.
  • 1991: Boca Juniors, da Argentina.
  • 1994: Cagliari, da Itália.
  • 1996: Milan, da Itália.
  • 1997: Real Oviedo, da Espanha.
  • 1999: Cagliari, da Itália.
  • 2000: Vélez Sarsfield, da Argentina.
  • 2002: Boca Juniors, da Argentina.

Óscar Washington Tabárez e a seleção: primeira passagem

Em 1988, Óscar Washington Tabárez chegou à seleção principal do Uruguai. Apesar de um começo desastroso, ele classificou a seleção celeste para a Copa do Mundo da Itália em 1990.

Lá, ele conseguiu superar a fase de grupos, mas caiu nas oitavas de final contra o anfitrião. Durante os seus primeiros anos no comando da seleção, o Maestro já mostrava que, além de ser um homem do futebol, ele também era uma pessoa com valores.

«Não há nada que me incomode mais – porque eu senti isso como jogador – do que quando começam a gritar da torcida para tirar alguém. Porque esse alguém também ouve os gritos… E eu vou dar a ele mais alguns minutos para que ele mostre que ele não precisa sair».

–Oscar W. Tabárez–

Segunda passagem comandando a seleção

O Uruguai da primeira metade do século XX havia ficado para trás. Óscar Washington Tabárez havia crescido em um Uruguai duas vezes campeão mundial, um exemplo de coragem e bom futebol.

Durante os anos 90, o país passava por uma crise tanto social quanto futebolística. A conexão entre o presente e as glórias do passado havia sido perdida.

Em 2006, depois que a seleção não se classificou para a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, o Maestro Óscar Washington Tabárez assumiu o comando novamente.

Então, ele lançou as bases de um projeto que ainda está em vigor atualmente e que devolveu o orgulho a um pequeno país de três milhões de habitantes. Os principais fundamentos foram:

  • Categorias inferiores: a grande maioria dos membros do elenco atual vem das chamadas ‘categorias de base’. Nelas, as crianças se identificam com um modelo de jogo e com os valores que a seleção representa.
  • Senso de pertencimento: o vínculo com a história foi reconstruído. Defender a seleção nacional é a maior recompensa para um jogador uruguaio.
  • Trabalho e humildade: o sacrifício e a entrega não são negociáveis. Os jogadores são um exemplo e representam a sociedade. Por exemplo, é muito comum que, em um treino do Uruguai, os próprios jogadores carreguem o material.
  • Coesão do grupo: O Maestro sabe muito bem que a coesão do grupo é alcançada quando uma equipe é formada por pessoas com vivências e atitudes positivas de uma vida comum.

As crianças do Uruguai

Para o Maestro, as crianças são o grande tesouro do país. Por isso, ciente de que mais de 99% delas não viverão do futebol, elas são educadas para viver na sociedade.

Em um mundo no qual o imediatismo e o futebol como um negócio são priorizados, Tabárez, com a sua metodologia e pensamento, tenta mudar algo além do futebol: a sociedade ao seu redor. Atualmente, o jogador uruguaio não é apenas guerreiro e corajoso, ele também é um exemplo.

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A estrada é a recompensa

No seu segundo ciclo na seleção, ele incorporou avanços tecnológicos, tais como a análise estatística do rival e dos seus próprios jogadores durante a partida. No entanto, além disso, ele também instaurou a ideia de ‘processo’: um projeto de longo prazo, que não demorou a dar frutos em forma de resultados:

  • Quarto lugar na Copa do Mundo da África do Sul 2010.
  • Campeão da Copa América 2011.
  • Classificação para as Copas do Mundo da África do Sul 2010, Brasil 2014 e Rússia 2018, e em todas elas passando da fase de grupos. 
  • Divisões inferiores vencendo torneios sul-americanos e chegando à final de vários campeonatos mundiais.

O professor vive e luta

Hoje, aos 72 anos, Óscar Washington Tabárez continua liderando a seleção uruguaia e é admirado e aplaudido por todos os seus rivais. Não é estranho vê-lo acompanhado de uma bengala ou em um carro dentro de campo. Há vários anos, o Maestro sofre de uma neuropatia periférica que limita os seus movimentos.

No entanto, como não poderia deixar de ser, ele também se sobrepôs à doença. Quando há um gol, é incrível ver como ele se levanta, como se fosse sustentado por esse grito que percorre o corpo e se crava na alma.

Se o Uruguai jogar, que ele seja comandado por Óscar Washington Tabárez

Fiel ao estilo de jogo que muitos rotularam de ‘defensivo’, Tabárez conseguiu encontrar e moldar nas crianças de dez anos atrás em peças perfeitas para o seu esquema atual.

Tudo isso graças a um processo que leva em consideração o caminho que deve ser seguido no esporte se quisermos que os resultados perdurem ao longo do tempo. A ordem, a entrega e o contra-ataque são característicos do seu 4-4-2, um esquema que inspirou grandes equipes, como o Atlético de Madrid, por exemplo.

Atualmente, Óscar Washington Tabárez tem contrato até a Copa do Mundo do Catar em 2022, o que significa que ele poderá ser apreciado um pouco mais.

Mas, aconteça o que acontecer, ele já está imortalizado na memória e o seu legado continuará sendo proclamado no ‘complexo celeste’, uma base de treinamento que, graças a um professor, agora combina futebol e educação.


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