Osteopatia dinâmica do púbis: fundamentos de um programa preventivo
No artigo a seguir, vamos discutir um tópico muito interessante e complexo, sobre o qual ainda há muito a ser estudado: a osteopatia dinâmica do púbis.
O objetivo é oferecer as informações descritas na literatura científica, a fim de esclarecer e associar critérios básicos que ajudem o leitor a conhecer os fundamentos de um programa preventivo.
Programa preventivo da osteopatia dinâmica do púbis (ODP)
Um programa preventivo se baseia, em geral, na tonificação adequada e no equilíbrio de todos os grupos musculares. É importante planejar treinos voltados ao trabalho e à melhora dos músculos envolvidos nesse segmento corporal ao longo do ano de treinamento, e não apenas durante os períodos de dor.
Para isso, uma série de objetivos deve ser alcançada. Fatores intrínsecos modificáveis serão levados em consideração como aspectos importantes para determinar o programa de prevenção a ser desenvolvido.
Objetivos a serem alcançados
Arencibia Sánchez (2012) expõe alguns dos propósitos a serem perseguidos com esse tipo de programa:
- Fortalecer o abdômen.
- Ganhar flexibilidade nos músculos adutores.
- Igualar a proporção de força entre os músculos adutores das duas pernas.
- Valorizar os músculos rotadores do quadril e isquiotibiais.
- Compensar possíveis alterações entre a musculatura agonista e antagonista.
Fatores intrínsecos modificáveis
Esses fatores são definidos como aqueles que podem ser potencialmente modificados para reduzir o risco de lesões para o atleta. Essa variação ocorre através da implementação de estratégias preventivas. Entre elas, destacamos o seguinte:
- Nível de treinamento específico.
- Percentual de gordura.
- ADM (amplitude de movimento) da musculatura abdutora e do quadril.
- Proporção de força no abdutor e adutor.
- Força e comprimento dos adutores.
- Recrutamento e força dos músculos abdominais.
- Ativação do transverso abdominal.
- Alterações posturais e biomecânicas.
Pilares para a prevenção da osteopatia dinâmica do púbis
Este protocolo é baseado em uma série de aspectos fundamentais a serem desenvolvidos no atleta dentro dos fundamentos de um programa preventivo. Podemos destacar os seguintes:
Flexibilidade
Existem vários estudos que defendem o uso do alongamento como fundamento de um programa preventivo. Esses alongamentos devem ser estáticos e focados em grupos musculares, tais como: adutores, isquiotibiais, abdominais, oblíquos, iliopsoas e pelvitrocanterianos.
Além disso, são muito úteis as manobras baseadas nos princípios de contração, relaxamento e alongamento e o uso de posições favoráveis para obter ganhos de flexibilidade.
Reeducação proprioceptiva
Destina-se a desenvolver o controle e a estabilidade da pelve. Em uma primeira fase, será realizada sobre uma superfície estável. Posteriormente, passa-se para uma superfície instável.
Nos dois casos, um trabalho de dissociação do tronco e membro inferior é realizado juntamente com exercícios de equilíbrio nas tuberosidades isquiáticas. Em seguida, isso seria complementado com outros exercícios específicos.
Controle motor, essencial para evitar a osteopatia dinâmica do púbis
Para a prevenção, é essencial executar um bom programa de controle motor. O trabalho será dirigido principalmente para a região posterior, o glúteo máximo e a região lombar. Esse treinamento é importante porque qualquer disfunção nessa área compromete a estabilidade da sínfise púbica.
A osteopatia dinâmica do púbis, em muitos casos, não está isolada e pode estar relacionada a uma alteração na articulação sacroilíaca ou lombalgias.
Reforço muscular excêntrico
Outro fator a ser considerado para os fundamentos de um programa preventivo é o treinamento excêntrico, que consiste em desenvolver os músculos a partir das contrações em alongamento.
Esse reforço se concentra na área afetada, isto é, nos grupos musculares envolvidos nesse quadro patológico. O objetivo é restaurar eventual desequilíbrio que a lesão possa ter causado.
Estabilidade pélvico-lombar
É outro ponto-chave que nos ajuda a entender a osteopatia dinâmica do púbis, pois depende da relação entre os diferentes elementos estabilizadores que compõem a estrutura.
É necessário ter um adequado controle neuromuscular do tronco e uma estabilidade pélvico-lombar apropriada, pois um déficit causaria lesões esportivas na área. Se adicionarmos a essa causa um maior protagonismo do músculo adutor, podemos iniciar um quadro clínico de ODP ou pubalgia.
Aplicação prática para prevenir a osteopatia dinâmica do púbis
Antes de planejar os diferentes protocolos ou treinamentos que serão realizados, é necessário conhecer os tipos de musculatura, tônica ou fásica, bem como os benefícios e a aplicação do trabalho excêntrico ou concêntrico em uma determinada estrutura.
Tipos de musculatura
Musculatura fásica ou dinâmica:
- Prevalência de fibras rápidas.
- Principais características: intervenção do metabolismo anaeróbico, baixa resistência à fadiga, alta velocidade de contração, músculos de movimento.
- Musculatura que, diante de inatividade ou patologia, tende à hipotonia e alongamento.
- Os músculos que formam essa musculatura são: músculos da parede abdominal, vasto interno, vasto externo e glúteo máximo.
Musculatura tônica ou estática:
- Prevalência de fibras lentas.
- É caracterizada por: predominância do metabolismo aeróbico, grande resistência à fadiga, tem baixa velocidade de contração e são músculos posturais.
- Musculatura que, diante de inatividade ou patologia, tende à hipotonia e encurtamento.
- Alguns dos músculos que a formam são: o psoas, os adutores, o tensor da fáscia lata, os isquiotibiais, o piramidal e o quadrado lombar.
Trabalho excêntrico para os músculos tônicos
Esse tipo de treinamento visa criar sarcômeros em série,; isto é, tem uma tendência a alongar o músculo. É importante destacar que isso pode ser feito em amplitude total ou em amplitude externa.
A amplitude total é caracterizada por contração completa e alongamento completo do músculo. Causa um aumento da amplitude de movimento e do comprimento total do componente contrátil.
Enquanto isso, a amplitude externa se refere a uma contração incompleta e a um alongamento total, o que causa um aumento no comprimento muscular pelo crescimento dos tendões.
Trabalho concêntrico para a musculatura fásica
O treinamento concêntrico é orientado para a criação de sarcômeros em paralelo. Em outras palavras, ele tem uma tendência a causar o encurtamento do músculo. Além disso, é interessante saber que ele pode ser trabalhado em amplitude média ou interna.
A amplitude interna se refere à contração completa e ao alongamento incompleto, o que causa tanto uma diminuição do componente contrátil quanto do comprimento total do músculo.
Por outro lado, a amplitude média é caracterizada por uma contração incompleta e um alongamento incompleto. Isso gera uma perda de amplitude de movimento causada por uma diminuição do componente contrátil.
Osteopatia dinâmica do púbis: conclusão
As lesões no púbis que podem surgir não são todas iguais. Portanto, poderíamos aplicar o mesmo plano preventivo para cada uma delas? É necessário um protocolo individualizado para cada atleta? Trabalharíamos da mesma maneira para a prevenção da ODP em todos os esportes?
É importante ter em mente que, dentre os planos preventivos, não podemos usar o mesmo plano para todos os atletas, nem existe um protocolo universal. Isso ocorre porque cada indivíduo precisa de seus próprios ajustes e cada profissional enfrenta a lesão a partir do seu ponto de vista e especialidade.
Portanto, há uma necessidade crescente de trabalhar de maneira multidisciplinar para ter uma maior chance de sucesso, bem como de individualizar o programa para cada atleta.
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