Diagnóstico, implicações e tratamento da disfagia
A disfagia é a dificuldade para a formação do bolo alimentar e sua subsequente mobilização da boca para o estômago. Para entender esse problema, é importante saber o que acontece com os alimentos que ingerimos a partir do momento em que os introduzimos na boca.
Quando comemos algo, ocorre um processo envolvendo quatro estágios. O processo começa quando introduzimos comida no corpo e termina quando o bolo alimentar passa pelo esôfago. Uma anormalidade em qualquer uma das fases da deglutição pode causar a disfagia.
O que é a disfagia?
Etimologicamente, disfagia significa “dificuldade de deglutição”. É um sintoma que se refere à dificuldade ou desconforto para formar ou mover o bolo alimentar da boca para o esôfago.
Existem dois tipos de disfagia dependendo do momento no processo em que a anomalia ocorre:
- Disfagia orofaríngea: esse tipo de disfagia afeta a fase superior da deglutição.
- Disfagia esofágica: nesse caso, o esôfago está envolvido.
Essa patologia tem alta prevalência, principalmente em pacientes com doenças neurológicas, como Parkinson ou Alzheimer. Também é prevalente em idosos institucionalizados, em pessoas com câncer no cérebro e no pescoço e em crianças com doenças neurológicas, como paralisia cerebral.
Diagnóstico
Existem vários algoritmos de diagnóstico, dependendo do centro médico. No entanto, todos eles têm uma coisa em comum: o diagnóstico deve ser baseado em métodos clínicos e complementares.
Para diagnosticar a disfagia, o médico precisa fazer uma avaliação holística com base no histórico médico do paciente. Nesse sentido, o teste mais utilizado é o Eating Assessment Tool (EAT-10). Esse teste consiste em dez perguntas que o paciente deve responder.
Após a elaboração do histórico médico, passa-se para o exame clínico. Nesse contexto, o método mais utilizado por sua fácil execução é o Método de Exploração Clínica Volume – viscosidade, conhecido coloquialmente como MECV-V.
Esse método avalia a eficácia e a segurança da deglutição através da administração oral de diferentes volumes e texturas de forma progressiva. Dependendo da tolerância do paciente, o médico estabelece se a disfagia afeta a passagem de líquidos, sólidos ou ambos.
Para confirmar ou descartar a presença de disfagia, existem métodos complementares. Por exemplo, a videofluoroscopia, que é o padrão-ouro, ou seja, a técnica mais precisa e eficaz. É uma técnica radiológica que avalia a disfagia após o paciente ingerir um líquido de diferentes viscosidades contendo bário.
Implicações nutricionais da disfagia
As principais implicações são a desidratação, a desnutrição e a pneumonia por aspiração. Essa última é a principal causa de morte em pacientes com disfagia. Portanto, requer atenção especial.
Tratamentos para a disfagia
O tratamento para a disfagia deve incluir medidas posturais, médicas e nutricionais. Portanto, uma equipe multidisciplinar será responsável por prescrever um tratamento adequado.
Tratamento de reabilitação
Alguns tipos de tratamento de reabilitação incluem:
- Estratégias posturais: evidências mostram que inclinar a cabeça para frente após ingerir alimentos favorece a passagem do bolo alimentar pelo trato digestivo.
- A estimulação mecânica da língua ou mudanças na temperatura e no volume dos alimentos podem fazer parte do tratamento de reabilitação. No entanto, existem poucas evidências que comprovem sua eficácia.
- A manobra de Shaker é uma das estratégias com maior sucesso prognóstico.
- Em pacientes que não têm dificuldades cognitivas e são capazes de cooperar, manobras de deglutição específicas também pode ser eficazes.
- A técnica mais recente é a eletroestimulação transcutânea. No entanto, são necessários mais estudos para avaliar sua eficácia.
Tratamento nutricional
A modificação do volume e da viscosidade do bolo alimentar é o tratamento de escolha para muitos desses pacientes, pois apresenta o mais alto grau de evidência. No entanto, a falta de padronização na formulação de volumes e texturas constitui um problema.
Nesse contexto, surgiu a Iniciativa Internacional de Padronização de Dietas para Disfagia (IDDSI, na sigla em inglês). Seu objetivo é unificar e criar um sistema de viscosidades facilmente reproduzido e válido em todo o mundo.
Recomendações gerais para pessoas com disfagia
Recomenda-se que os pacientes com disfagia comam em ambientes tranquilos e sem distrações. Dessa forma, eles podem prestar total atenção ao ato de comer.
Uma boa estratégia para melhorar a aderência é dividir a ingestão. Em outras palavras, fazer mais refeições por dia e em volumes menores. Esses volumes devem ser adaptados ao resultado do MECV-V para minimizar o engasgo.
Manter uma hidratação adequada pode ser difícil para esses pacientes, pois eles geralmente não gostam de água gelificada ou com espessantes. O suco natural é uma boa opção para aqueles que conseguem tolerar a textura.
Também é importante evitar texturas mistas e sempre buscar homogeneidade. Assim, é melhor evitar sopas e frutas como laranjas, pois possuem uma textura dupla.
Quando se trata de temperatura dos alimentos, evidências sugerem que os pacientes têm menos dificuldade em engolir alimentos quentes e frios do que alimentos mornos.
Como já mencionamos, o tratamento para a disfagia deve ser multidisciplinar. Nesse sentido, os pacientes devem manter uma boa higiene bucal e incorporar medidas posturais, como comer na posição vertical e deitar-se após ingerir alimentos.
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