Como jogava "A Laranja Mecânica" de 1974

Uma equipe sem dúvidas lendária, a Holanda de 1974 apresentou um dos melhores jogos já vistos. Com Michels e Cruyff como líderes, disputaram a primeira final do mundo por seu país.
Como jogava "A Laranja Mecânica" de 1974

Última atualização: 30 agosto, 2019

Apesar de não ter sido campeã do mundo, a seleção holandesa que jogou na Copa do Mundo de 1974 na Alemanha entrou para a história do futebol como uma das melhores equipes já vistas. Apelidada de “A Laranja Mecânica”, o elenco revolucionou a maneira de assistir, jogar e compreender o futebol para sempre.

O pai da criatura era o treinador Rinus Michels. Ele vinha da posição de técnico do AJAX em Amsterdã por muitos anos e havia trabalhado também no FC Barcelona. Suas equipes jogavam muito bem e, além disso, o jogador Johan Cruyff, figura emblemática daquela equipe, estava em seu melhor nível.

É por isso que, em 1974, a Royal Netherlands Football Federation decidiu confiar a equipe nacional a esse experiente treinador. Sua missão era fazer com que a Holanda, até então sem participações bem-sucedidas no evento mais alto do futebol, quebrasse esse paradigma. Como você já deve saber, deu certo.

Quem formou “a laranja mecânica” de 1974

A equipe foi composta por uma longa lista de jogadores do Ajax, que Michels conhecia de seu tempo no clube. Contava com figuras tais como Johan Neeskens, Johnny Rep, Rob Ressenbrink ou Ruud Krol, para nomear os mais conhecidos.

Para ilustrar alguns nomes infalíveis desse conjunto histórico, poderíamos falar da formação que jogou na final da Copa do Mundo contra a Alemanha: Jongbloed, Suurbier, Rijsberger, Haan, Krol, Jansen, Neeskens, Van Hanegem, Rep, Cruyff, Ressenbrink.

O esquema que ele comumente usou foi 4-3-3, tão popularizado pelo saudoso Barcelona de Josep Guardiola. No entanto, essa seleção quase não tinha posições fixas. Seu estilo de jogo, como veremos abaixo, exigia uma troca constante de posições e funções.

Jogabilidade da “Laranja Mecânica” de 1974

Não há muitas equipes que perderam duas finais de mundiais – a Holanda perdeu novamente para a dona da casa, Argentina, em 1978 – e ainda assim são lembradas para sempre. A Holanda alcançou isso com base no futebol totalmente inovador para a época.

Jogador da laranja mecânica
Johan Cruyff

Embora hoje alguns desses aspectos possam nos parecer comuns, naquela época era uma maneira totalmente inovadora. Foi assim que a Holanda jogou:

  • Posse como ideia central: “A Laranja Mecânica” tentou ficar com a bola o maior tempo possível. Ela não forçou os ataques, mas tocou a bola pacientemente até que o espaço se abrisse. Naquela época, o futebol era mais direto do que agora. Talvez seja por isso que os critérios de jogo da equipe impressionaram tanto.
  • Rotação constante: Na Holanda de 1974, todos os jogadores atacaram e defenderam. Michels transmitiu aos seus jogadores a ideia de que a coletividade era o que os levaria a grandes realizações. Assim, ele foi capaz de realçar a individualidade de cada um que ele tinha à disposição.
  • Alta pressão: outra característica comum hoje, mas não na época. Quando eles perdiam a bola, três, quatro ou até cinco jogadores holandeses saiam em disparada na direção do oponente com a posse. Assim, quando eles se recuperavam no campo rival, eles encontravam o defensor em uma posição mais vulnerável.
  • Fora de jogo como método defensivo: conduziu ao adiantamento da linha defensiva para impedir passes longos. Esse elemento inovador tornou muito difícil causar algum dano à equipe de Michels.
  • Preparação física: você não pode deixar de lado este item, que no entanto pode parecer complementar. “A Laranja Mecânica” tinha muita mobilidade e desprendimento. Isso logicamente requer jogadores bem preparados no quesito físico.

O futebol perfeito

Todas essas armas, combinadas com precisão digna da melhor orquestra, conseguiram imortalizar o lema “Futebol Total”. Essas duas palavras simbolizam perfeitamente o estilo do jogo da seleção, que soube cair nas graças dos holandeses e também do mundo.

“O futebol consiste basicamente em duas coisas. Primeiro, quando você tem a bola, você deve ser capaz de passá-la corretamente. Segundo, quando você pega a bola, você tem que ser capaz de controlá-la. Se você não a controla, você não pode passá-la também. Você pode jogar muito, mas se você não colocá-la para dentro, você não ganha”

— Johan Cruyff —

Os resultados da “Laranja Mecânica”

Na fase de grupos, a Holanda venceu o Uruguai (2-0), a Bulgária (4-1) e empatou com a Suécia (0-0). Dessa forma, o time avançou como primeiro colocado no grupo 3.

Na segunda fase, a equipe fez sua estréia com uma partida memorável contra a Argentina (4-0). Eles então derrotaram a Alemanha Democrática (2-0) e o campeão da defesa, o Brasil (2-0). Além de não tomar nenhum gol, a Holanda avançou outra vez como o líder do grupo.

Jogadores apertando as mãos

Após essa jornada, eles chegaram à final contra a Alemanha. O início desse jogo foi algo simplesmente fenomenal. Em um minuto de jogo, sem jogadores alemães tocando a bola, a Holanda colocou Cruyff contra a defesa. Ele enfrentou e sofreu um penalti, que foi convertido por Neeskens para um gol.

Também no primeiro tempo, uma penalidade de Jansen terminou em 1-1, convertida por Paul Breitner. Faltando dois minutos para o intevalo, o artilheiro histórico Gerd Muller – até recentemente o maior artilheiro da história da Copa do Mundo – marcou para a equipe, o que seria o resultado final da partida.

Apesar dessa derrota, a equipe holandesa permaneceu na memória de todos. Alguns dizem que isso a tornou ainda maior. Pode ser verdade: ninguém ousa associar “A Laranja Mecânica” com o termo “fracasso”.


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  • Jensen, R. (2014). Looking at the extraordinary success of the “Clockwork Orange”: Examining the brilliance of total football played by the Netherlands. Soccer and Society15(5), 720–731. https://doi.org/10.1080/14660970.2014.912018

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